Em São Paulo, duas cooperativas com 730 ônibus pararam por causa da demissão de cobradores. Falta legislação nacional sobre o tema
Enquanto que na Capital Paulista, neste dia 02 de abril de 2014, duas cooperativas na zona Norte de São Paulo, Transcooper e Fênix, pararam 730 veículos no início do dia por causa da demissão de cerca de 500 cobradores, em Jundiaí, no interior de São Paulo, o MPT – Ministério Público do Trabalho quer o fim da chamada dupla função no transporte coletivo, quando o motorista dirige o ônibus e cobra passagens ao mesmo tempo.
Na última terça-feira, dia 1º de abril de 2014, o Ministério Público do Trabalho se reuniu com os representantes das quatro empresas da cidade: Auto Ônibus Três Irmãos, Viação Jundiaiense, Viação Leme e Rápido Luxo Campinas. Também participaram do encontro membros do Sindicato dos Trabalhadores em Transporte Rodoviários de Jundiaí.
O Ministério Público determinou que as empresas de ônibus apresentem em duas semanas os contratos trabalhistas dos motoristas que dirigem e cobram ao mesmo tempo e a relação das linhas onde esta prática ocorre.
As empresas de ônibus informaram que 20% dos trabalhadores acumulam a função de cobrador em linhas e horários específicos, quando o número de passageiros é reduzido e em veículos de menor porte.
À Agência Bom Dia, a procuradora do Trabalho que presidiu a audiência, Alvamari Cassillo Tebet, esclareceu que não abre mão de um consenso que gere a eliminação do exercício da dupla função dos motoristas de ônibus. “Haja vista as repercussões nocivas que o desempenho de tais atividades pode gerar no que tange à segurança dos usuários e da população geral, a intenção desta investigação é garantir a segurança dos trabalhadores e dos usuários do serviço público de transportes”, afirma.
A questão é polêmica em todo o Brasil e não há uma legislação nacional específica, o que é reivindicado pelos profissionais de transportes e parte dos passageiros.
As empresas de ônibus alegam que os cobradores ficam ociosos na maior parte do tempo durante a viagem por causa da bilhetagem eletrônica, que hoje representa cerca de 80% dos pagamentos de passagens em médias e grandes cidades. Isso resultaria, de acordo com as empresas, em maiores custos para os sistemas causando impactos nos valores das tarifas.
Já os trabalhadores dizem que o cobrador não atua apenas no recebimento do dinheiro das passagens e do controle de eventuais defeitos nas catracas e validadores. Eles acabam sendo auxiliares dos motoristas em pontos-cegos dos ônibus (locais onde há pouca visão nas manobras e cruzamentos), nos embarques e desembarques e para informar os passageiros sobre destinos e pontos de parada.
Técnicos em segurança do trabalho dizem que, dependendo da linha e da via percorrida pelo ônibus, a dupla função pode ser perigosa.
Isso porque, ao manipular o troco ou verificar algum problema com o bilhete eletrônico, o motorista acaba dividindo a atenção que deveria ser apenas para o trânsito. Numa comparação em grosso modo, seria como se o motorista dirigisse e falasse ao celular.
A ausência de cobrador é defendida por técnicos em segurança apenas em corredores exclusivos para ônibus onde há o sistema de pré-embarque, pelo qual os passageiros pagam as tarifas antes de entrarem nos ônibus, ou com bilhetagem dentro dos veículos onde não é possível pagar com dinheiro.
Além dos riscos de acidentes, trabalhadores relatam o maior nível de estresse quando dirigem e cobram. Eles precisam ter cautela no trânsito e ao mesmo tempo conferir as moedas e notas, isso quando não há discussões com passageiros por causa do troco.
por:Adamo Bazani, jornalista da Rádio CBN, especializado em transportes
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