Licitação de São Paulo deve ajudar a “destravar” mercado de carrocerias, acredita Caio
Diretor industrial da encarroçadora espera cenário melhor para o segundo semestre, mas não o suficiente para reverter os números negativos
Os segmentos ligados aos transportes coletivos estão entre os que mais sentem a retração econômica no País.
De acordo com a Fenabrave – Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores, os emplacamentos de ônibus entre janeiro e maio deste ano (dado mais recente) tiveram queda de 24,75% na comparação com o mesmo período de 2014. No ano passado, foram emplacados 13 mil 346 veículos de transporte coletivo ante 10 mil 043 nos cinco primeiros meses de 2015.
Os dados relativos ao desempenho dos segmentos de ônibus e caminhões são preocupantes porque não indicam a disposição simplesmente das famílias de consumirem. Por se tratarem de bens de capital e bens intermediários, os veículos pesados são um reflexo da disposição dos outros setores em investir. E quando não há um clima de segurança para investimento, não há geração de emprego e crescimento econômico.
O diretor industrial da Caio Induscar, Maurício Lourenço da Cunha, atendeu em Botucatu, sede da montadora, no interior de São Paulo, a reportagem do Blog Ponto de Ônibus.
A Caio desde outubro do ano passado demitiu aproximadamente mil trabalhadores. Hoje a planta tem em torno de 3 mil 900 funcionários. A empresa iniciou neste ano operações na cidade de Barra Bonita, também no interior paulista, um projeto anterior à crise econômica e que conta com funcionários que foram contratados e treinados na sede de Botucatu.
“Acreditamos que o segundo semestre vai ter um quadro melhor que este primeiro. Mas o setor ainda vai sentir muito e haverá uma expressiva queda. Queda esta que vai se somar ao desempenho negativo já registrado em 2014. Em 2016, acredito numa recuperação gradual.” – disse Cunha.
Segundo ele, o fato de o ano que vem ser de eleições pode ajudar o setor de ônibus, em especial o de urbanos, especialidade da Caio Induscar.
“É natural que haja renovações de frotas de ônibus em eleições, em especial as municipais. Isso deve ser sentido no primeiro semestre. Já passando o período eleitoral, a tendência é de queda. Acredito que somente em 2017, se nada ocorrer até lá, é que o setor de carrocerias vai se recuperar de fato” – disse Maurício Lourenço Cunha.
Uma esperança para minimizar os efeitos da situação atual está em São Paulo. O prefeito Fernando Haddad e o secretário municipal de transportes, Jilmar Tatto, disseram que nesta semana deve ser lançado o edital de licitação do maior sistema de ônibus da América Latina, hoje com 15 mil veículos e 9 milhões de passageiros por dia, contanto as integrações com o Metrô e a CPTM.
A Caio, fundada pela família Massa, desde 2001 pertence ao grupo do empresário José Ruas Vaz, que detém sozinho e em sociedade com outros empresários 54,3% das linhas do atual subsistema estrutural da cidade.
Hoje a Caio responde por mais de 90% das carrocerias de ônibus na Capital Paulista, segundo o SPUrbanuss, sindicato que reúne as viações.
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Distribuição atual de carrocerias na frota do sistema estrutural da cidade de São Paulo, segundo SPUrbanuss |
“A licitação em São Paulo é muito importante. Ela não vai ser responsável sozinha pela recuperação do setor, mas vai destravar as vendas, com certeza. Muito mais que ela, é necessário criar um ambiente positivo, de confiança, para investimento.” – disse Cunha.
A reportagem esteve na linha de produção da Caio, onde não é permitido fotografar, e percebeu a presença de vários ônibus para a Capital Paulista, entre superarticulados e convencionais com motor dianteiro já dotados de ar condicionado. Os veículos têm o mais recente padrão de pintura da cidade, com a frente e a traseira em diferentes cores indicando a região servida, e a maior parte da carroceria prateada.
Para Cunha, após este momento econômico deve haver algumas mudanças no setor de carrocerias dependendo da postura adotada pelas fabricantes antes mesmo da crise.
Em 2011 e 2013, as vendas de ônibus tiveram recordes positivos. Será que as empresas não usaram esta “gordura” para minimizar a crise?
Para Cunha esse vai ser um dos diferenciais.
“O que foi feito com o resultado destes anos positivos e se os investimentos foram realizados de maneira mais cautelosa vai ser determinante para fazer a diferença entre os que vão passar pelo atual cenário com capacidade melhor de recuperação”.
Maurício Lourenço da Cunha diz que atualmente houve uma queda no valor das carrocerias. E um dos motivos disso, além da baixa nas vendas pela situação econômica atual, foi a forma de investimentos realizada.
“Se dimensionou um volume de produção em algumas plantas muito grande. Para justificar este volume e atrair compradores, os preços foram reduzidos, impactando em todo o ambiente de concorrência” – complementou.
Quanto ao Programa Caminho da Escola, do Governo Federal, um dos grandes responsáveis pelos bons desempenhos de 2013, Cunha vê hoje a situação do mercado estagnada. Ele acredita que somente em 2017, após os efeitos do ajuste fiscal, é que o setor de ônibus escolares para o programa deve ganhar um fôlego expressivo.
por: Adamo Bazani, jornalista da Rádio CBN, especializado em transportes
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