segunda-feira, 17 de março de 2014

O crime organizado, as cooperativas de transporte e os ataques a ônibus


ônibus queimado
Ônibus queimado em São Paulo. Gaeco – Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado, do Ministério Público de São Paulo, vai investigar a relação entre os ataques a ônibus a apurar a participação de facções criminosas que teriam ligações com cooperativas.
Ministério Público vai investigar ação de facções criminosas nos incêndios a ônibus
O fato de a maioria dos ataques ser a veículos de empresas e não de cooperativas chama a atenção do Gaeco
O Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público de São Paulo, acredita que pode haver a atuação de uma facção criminosa do Estado nos mais de cem incêndios a ônibus que ocorreram na Capital desde janeiro de 2013.
Um dos indícios que fazem o Gaeco abrir uma investigação,além das outras promotorias, é que a maioria dos ataques ocorreu contra ônibus de empresas do sistema estrutural e poucos veículos de cooperativas do sistema local foram atingidos.
O método de investigação do Gaeco vai ser mais adequado. Em vez de analisar os ataques isoladamente, como faz a Polícia Civil, que descarta a participação do crime organizado, este braço do Ministério Público vai verificar todos os ataques e ver se há relação entre as ações.
O órgão quer entender porque apenas sete por cento dos veículos incendiados são de cooperativas e o restante das empresas do sistema troncal.
A preocupação do Gaeco se dá pelo fato de várias investigações apontarem a ligação entre o PCC –Primeiro Comando da Capital com cooperativas de transportes na cidade de São Paulo.
De acordo com reportagem de Tahiane Stochero, do G 1 de São Paulo, há procedimentos do Gaeco sobre possível lavagem de dinheiro do crime organizado pelas cooperativas.
“Os procedimentos foram instaurados entre o fim de 2012 e o início de 2014. A suspeita do MP é que o crime organizado não coloque fogo no próprio patrimônio. Ao menos quatro cooperativas são investigadas. Elas são suspeitas de funcionar como uma nova forma de renda da facção e também para lavar o dinheiro do tráfico de drogas – mais de R$ 8 milhões mensais. Segundo promotores, as denúncias tiveram início em 2012. A suspeita é que a quadrilha tenha comprado micro-ônibus e linhas de cooperativas: cada trajeto local vale entre R$ 150 mil e R$ 270 mil. O MP suspeita que o dono da van continua trabalhando na linha, mas agora como funcionário do “crime organizado”. – diz a reportagem.
À repórter, o promotor Everton Zanella, coordenador estadual do Gaeco, acredita que o crime organizado quer mostrar força queimando ônibus.
“Recebemos tudo o que polícia já investigou e vamos tentar uma relação entre os casos. Nos parece que grande parte dos casos vem do crime organizado. São ações com o objetivo de afrontar o estado. Uma demonstração de poder”, afirma Zanella.
Ele também afirmou que uma das possibilidades é de que a população saiba que parte dos micro-ônibus de cooperativas é ligada ao crime organizado e por isso, não ataca estes veículos com medo de retaliação de bandidos.
“É estranho que vans de permissionárias não sejam incendiadas. Tem bem mais ônibus do que micro-ônibus (como alvo) e isso ocorre por algum motivo. Isso que queremos descobrir. Pode ser que a população saiba o que é do crime organizado e o que não é”, diz o promotor à reportagem do G 1.

OPINIÃO DO BLOG PONTO DE ÔNIBUS:
A reportagem do G 1, publicada neste dia 17 de março de 2014, que revela o interesse do Gaeco – Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado, do Ministério Público de São Paulo, em investigar se os cerca de cem incêndios a ônibus desde 2013 na cidade têm relação com o crime organizado, dá a oportunidade para uma série de reflexões. Estranhamente ou não, apenas sete por cento dos veículos atacados são de cooperativas. A grande maioria dos ônibus destruídos é de empresas.
São várias investigações que mostram indícios de participação de facções criminosas nas cooperativas tanto para suposta lavagem de dinheiro ou mesmo para engordar o caixa dos bandidos.
Tentar ignorar uma possível participação do crime organizado não é a melhor forma de enfrentar o problema. A questão é que a Polícia Civil de São Paulo é formada por profissionais competentes e experientes. Ao longo da cobertura policial pela Rádio CBN, encontramos delegados e investigadores que possuem vontade e condições de esclarecer e ajudar a combater a atuação do crime em São Paulo seja por organizações criminosas ou não.
Mas também verificamos que, mais que em vários estados da federação, a influência política limita o trabalho dos policiais e os impede até mesmo da livre expressão.
E a tática do Governo do Estado de São Paulo é negar problemas.
Não que se deve dar força e promover facções criminosas, mas ocultá-las aos olhos da população é o mesmo que protegê-las.
A sensação de insegurança é perigosa, mas a falsa sensação de segurança é pior ainda.
Algumas informações não devem ser divulgadas para não atrapalhar investigações, mas o que ocorre no Governo de São Paulo é o medo de ficar ruim na mídia.
Isso ocorre até com os níveis das represas. O Governo reduziu o fornecimento para os municípios que dependem do sistema Cantareira, já falta água em dias e horários marcados, mas as autoridades insistem em dizer que não há racionamento.
Cabe ao jornalista ouvir a versão oficial, mas abordar contradições e divulgar as suspeitas quando elas procedem.
Já na cobertura na área de transportes, é possível perceber que estes ataques a ônibus de empresas, não devem, num primeiro momento, se tratar de uma disputa entre viações e cooperativas. O sistema de transportes está bem combinado.
A possibilidade de atuação do crime organizado não deve mesmo ser desconsiderada nos ataques, disfarçados em manifestações populares, pois há lógica no raciocínio do promotor Everton Zanella, coordenador estadual do Gaeco: o crime organizado quer mostrar poder, mas não quer destruir o patrimônio. Além disso, ao saber da possível ligação de algumas cooperativas com facções criminosas, a população tem medo de atacar estes veículos.

Fonte: ,por : Adamo Bazani, jornalista da Rádio CBN, especializado em transportes

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