Corredores de ônibus travados em São Paulo.
De acordo com SPTrans, velocidade média nos corredores caiu de 2011 para 2012 e, em alguns casos, o ônibus anda mais rápido fora dos corredores
Que os corredores de ônibus precisam ser modernizados em São Paulo e que a cidade precisa ter estruturas como de BRT – Bus Rapid Transit – e não apenas faixas ou canaletas simples, não precisa ser nenhum especialista para saber.
Mas dados da SPTrans – São Paulo Transportes, gerenciadora do sistema da Capital Paulista, mostram a urgência do aperfeiçoamento dos espaços exclusivos de ônibus.
A velocidade média dos ônibus nos corredores caiu 10,6% no pico da tarde entre 2011 e 2012. Também houve redução nos horários da manhã.
Em 2011, no final da tarde os ônibus desenvolviam, em média, 15 km/h nos corredores. Em 2012, essa velocidade caiu para 13,4 km/h. Na manhã, a velocidade foi de 13,8 km/h.
Os índices ainda estão dentro do que é considerado aceitável pelos especialistas em transportes, mas a redução da velocidade preocupa. Em alguns casos, o ônibus fora do corredor consegue desenvolver uma velocidade maior que nas faixas. A média do sistema de ônibus é de 19,7 km/h.
CORREDOR DE ÔNIBUS É UMA SOLUÇÃO ULTRAPASSADA?
Diante destes números, muitos podem pensar que corredor de ônibus é uma solução ultrapassada. Mas essa ideia, além de ser errada, é cheia de interesses econômicos não legítimos e de marketing político por trás.
O Brasil e diversos países mostram que espaços preferenciais para ônibus estão entre as melhores soluções de mobilidade urbana. O corredor de ônibus, além de ser barato e atender a uma grande demanda de pessoas, pode ser implantando onde outros modais de transportes não podem chegar e, diferentemente do que muitos pregam, não se rivaliza, mas ajuda e complementa o sistema de metrô.
O que ocorre em São Paulo e em outras cidades é que assim como a demanda de passageiros cresceu e a necessidade de deslocamentos é cada vez maior, os corredores de ônibus precisam ser ampliados e modernizados.
Se houver mais corredores de ônibus, será possível distribuir melhor a frota e não concentrar um grande número de linhas em determinadas rotas.
Além disso, a cidade precisa evoluir de corredores para BRTs – Bus Rapid Transit, ou Ônibus de Trânsito Rápido. O próprio nome diz, nestes espaços, os ônibus são mais rápidos.
E há grandes diferenças entre um simples corredor e um sistema de BRT.
Vejamos:
PONTOS DE ULTRAPASSAGEM: Um corredor de ônibus simples dificilmente possui uma faixa extra para que os ônibus não se aglomerem nos pontos. No BRT, quando o ônibus de trás realiza suas operações de embarque e desembarque, pode ultrapassar o da frente. Muitas pessoas podem dizer que esta faixa extra pode ocupar muito espaço urbano. Essa premissa não é verdadeira. Primeiro porque quem ocupa de maneira ineficiente o espaço é o transporte individual que consome muita área para transportar pouca gente. Depois, uma faixa extra é menor que muitas estações de outros modais, como no monotrilho que necessita de elevadores e escadas rolantes, e não bastasse isso, não é necessário haver pontos de ultrapassagem no corredor todo, mas somente em locais de maior concentração de ônibus.
PRÉ-EMBARQUE: Aquele tempo que a pessoa entra no ônibus, pega seu cartão ou dinheiro e paga a passagem, causando fila de passageiros para o embarque parece pouco. Mas somadas todas as viagens e as paradas que o ônibus faz, esse tempo resulta em uma redução significativa na velocidade operacional. O BRT é dotado de estações e não de pontos. As pessoas pagam a passagem na estação, onde esperam a condução protegidas da incidência do sol e da chuva, e quando o ônibus chega, elas entram mais rapidamente. Além disso, o ônibus não precisa ter catracas em seu interior, o que permite mais espaço para passageiros em pé ou sentados.
ESTAÇÕES ACESSÍVEIS: Quando se fala em acessibilidade, muitos erram ao pensar que isso é só destinado a pessoas portadoras de limitações. A acessibilidade deve ser voltada para todos os passageiros e é esta a vantagem do BRT, ele respeita as necessidades de cada um, mas democratiza o acesso tratando os passageiros como cidadãos iguais que são, tendo ou não deficiências. As estações têm o piso na mesma altura do assoalho do ônibus, o que agiliza o embarque e desembarque. Também parece pouco, mas o ato de subir e descer os degraus dos ônibus em várias paradas e viagens influencia na velocidade operacional dos ônibus.
SEGREGAÇÃO DE FATO: Os espaços para ônibus devem ser de ônibus. O que parece óbvio não é respeitado, principalmente em faixas exclusivas. O entra e sai de táxis ou outros veículos nas pistas de ônibus é mais um dos fatores da série já citada que somam para que a velocidade dos ônibus seja menor.
PREFERÊNCIA NOS CRUZAMENTOS: Não tem outra opção. Se a cidade quer ter uma mobilidade urbana que atenda de fato aos cidadãos, os sistemas que transportam mais pessoas devem ter prioridade no espaço urbano. E prioridade não é apenas uma faixa exclusiva, mas em todo o tráfego na cidade. Hoje, mesmo em corredores, um ônibus articulado que transporta de uma só vez 123 pessoas fica longos tempos no semáforo para o carro com um passageiro passar. O ideal é que os corredores de ônibus tenham menos cruzamentos possíveis, mas em algum momento da viagem as vias têm de se encontrar. E nestes cruzamentos, a preferência tem de ser da maioria. Já existem equipamentos que detectam a chegada dos ônibus e abrem o semáforo para eles. Isso ajuda até o carro de passeio, pois o sinal se fecha só quando é preciso. Se não esta passando uma quantidade significativa de ônibus no trecho, o sinal fica aberto para o carro que não precisa ficar parado sem necessidade.
PREFERÊNCIA AO PEDESTRE E AO CICLISTA: Dar preferência ao pedestre, em cruzamentos, com passarelas, e aos ciclistas nas ciclovias (e não faixas improvisadas que causam acidentes) também ajuda no transporte coletivo. Muita gente se sente desestimulada a usar ônibus, trem e metrô porque nem sempre é fácil chegar até eles. Calçadas decentes fazem parte de um plano de mobilidade.
INFORMAÇÃO: As estações de BRT são dotadas de totens eletrônicos ou fixos com informações sobre as linhas e horários. Assim,quando o ônibus chega, o passageiro sabe qual o veículo certo para embarcar. Ele não precisa usar tempo para perguntar ao motorista ou mesmo entrar no ônibus, saber que é o veículo errado e interromper o fluxo dos outros passageiros, para sair do ônibus no mesmo ponto.
A cidade de São Paulo promete melhorar a velocidade dos ônibus com um plano de corredores modernos no estilo de BRT, previsto na licitação dos transportes a ser realizada este ano. O objetivo, segundo o Secretário Municipal de Transportes, Jilmar Tatto, em apresentação das linhas da licitação, coberta por este jornalista, é oferecer corredores com velocidades médias de 25 km/h.
Fonte: por: Adamo Bazani, jornalista da Rádio CBN, especializado em transportes
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